Traduzido por Alexandra Manaia.
Nesta experiência, utilizam-se soluções líquidas simples para simular amostras de sangue e mostrar como se realiza a tipagem sanguínea.
O tema da tipagem sanguínea é frequentemente abordado nas aulas de ciências. No entanto, por várias razões, pode não ser possível utilizar verdadeiras amostras de sangue – devido às preocupações dos pais, à necessidade de efetuar avaliações de risco para prevenir a transmissão de doenças através do sangue, ou à relutância dos alunos em usar o seu próprio sangue.
Nesta atividade experimental, utilizamos algumas soluções químicas simples para simular os tipos de sangue. Esta atividade pode ser desenvolvida na sala de aula, em clubes de ciências, ou no contexto de dias temáticos dedicados à ciência forense, abertos à participação de estudantes de várias idades.
um esfregaço de sangue
humano mostrando os
glóbulos vermelhos (A),
plaquetas (B) e glóbulos
brancos (C, D, e E)
Imagem cortesia de Magdalena
Wajrak
O sangue é um fluido vermelho e viscoso contendo vários tipos de células em suspensão, num líquido aquoso chamado plasma: glóbulos vermelhos, glóbulos brancos e plaquetas (Figura 1). Existem também diversas moléculas em suspensão, ou dissolvidas no plasma, incluindo proteínas, açúcares, gorduras, enzimas, sais e gases. O sangue de cada um de nós possuí características hereditárias específicas que o distinguem do sangue das outras pessoas.
Até aos anos 1980, a tipagem sanguínea realizava-se essencialmente recorrendo aos grupos sanguíneos ABO. A tipagem ABO, baseia-se na deteção de moléculas, chamadas antigénios, na superfície das células. Embora a utilização desta técnica para fins forenses tenha, desde então, sido substituída por técnicas de biologia molecular como o DNA fingerprinting, a tipagem ABO continua a ser usada antes de efetuar transfusões de sangue, de modo a prevenir complicações como a rejeição.
É a presença ou ausência dos antigénios A e B nos glóbulos vermelhos de um individuo que determina o seu grupo sanguíneo ABO. De acordo com este princípio podem-se identificar quatro tipos principais de sangue: A, B, AB (quando ambos os antigénios estão presentes) e O (quando nenhum dos antigénios está presente), tal como ilustramos na figura 2. Um terceiro antigénio sanguíneo importante é o factor Rhesus (Rh), também designado de antígeno D. Quando o antigénio D está presente nos glóbulos vermelhos, diz-se que o sangue é de tipo Rh positivo. Na ausência deste antigénio, o tipo de sangue será Rh negativo.
Para determinar o tipo sanguíneo de um dado indivíduo, adicionam-se anticorpos (também designados aglutininas ou anti-soros) a algumas gotas do seu sangue. As aglutininas ligam-se aos respectivos antigénios, presentes na superfície dos glóbulos vermelhos, levando à formação de agregados de células. Assim, a ocorrência de aglutinação numa amostra de sangue, reflete a presença do respectivo antigénio. Uma vez testados todos os antigénios, podemos deduzir o tipo de sangue da amostra (tabela 1).
Aglutinina Anti-A + sangue: aglutinação |
Aglutinina Anti-B + sangue: aglutinação |
Tipo sanguíneo |
---|---|---|
Sim | Não | A |
Sim | Sim | AB |
Não | Sim | B |
Não | Não | O |
Utilize óculos e luvas apropriados para uso em laboratório. Ver também a nota geral de segurança.
dispostas no suporte (godés)
Imagem cortesia de Magdalena
Wajrak
Cada grupo vai precisar de
Explique o cenário aos seus alunos: houve um acidente e é preciso proceder à tipagem sanguínea ABO das vítimas antes de realizar as transfusões de sangue. Utilizando as amostras e os anti-soros disponíveis, os alunos deverão determinar o tipo sanguíneo de cada uma das vítimas.
Tipo sanguíneo | Observações com anti-soro anti-A. Ocorreu aglutinação? | Observações com anti-soro anti-B. Ocorreu aglutinação? |
---|---|---|
A | ||
B | ||
AB | ||
O |
Vítima | Observações com anti-soro anti-A. Ocorreu aglutinação? | Observações com anti-soro anti-B. Ocorreu aglutinação? | Tipo sanguíneo |
---|---|---|---|
1 | |||
2 | |||
3 | |||
4 |
Nestes testes usamos reações químicas simples para simular o modo como os diferentes tipos sanguíneos reagem às aglutininas. Com alunos mais velhos poderá aprofundar a discussão acerca do mecanismo de reação envolvido, sublinhando as diferenças entre a reação antígeno-anticorpo que está a simular e a reação química de “dupla troca” (ou reação de metátese) que está realmente a ocorrer.
Nesta experiência, o fenómeno de aglutinação é simulado através da formação de um precipitado (branco), que dá um aspecto coagulado às “amostras” testadas.
Nitrato de Bário (aq) + Ácido Sulfúrico (aq) à Sulfato de Bário(s) + Acido Nítrico(aq)
Nitrato de Prata (aq) + Ácido Clorídrico (aq) à Cloreto de Prata (s) + Ácido Nítrico (aq)
Os aglomerados formados são de cor vermelha escura, em vez de branco, devido à presença de corante alimentar.
A necessidade de identificar o tipo de sangue dos pacientes antes da realização de transfusões sanguíneas pode em breve tornar-se num procedimento obsoleto. Recentemente, cientistas sediados na Universidade de Edimburgo no Reino Unido, anunciaram ter conseguido produzir glóbulos vermelhos tipo O (A e B negativos) a partir de células estaminais. Caso este método consiga ser adaptado, com êxito, à produção em grande escala, poderá conduzir à obtenção de uma fonte de sangue de tipo dador universal- o início dos ensaios clínicos em pequena escala está previsto para 2016.
Além disto, os investigadores estão a desenvolver novos produtos à base de hemoglobina (a proteína do sangue que transporta o oxigénio), por exemplo sob a forma de pó polimerizado. Este novo produto tem a vantagem de poder ser armazenado durante meses à temperatura ambiente, ao contrário do sangue, que tem de ser refrigerado.
Para realizar este tipo de atividade pode recorrer-se a métodos experimentais alternativos. A composição das soluções utilizadas nesta versão foi fornecida por um grupo de técnicos, membros da Association of Science Technicians in Independent Schools in Western Australia (LABNETWEST)w1.